Adão acordou.
Tinha sido o primeiro e o mais profundo sono, depois de um choro triste de solidão e tristeza. O homem deu aquela espreguiçada, e dizem que foi a mais longa e gostosa do mundo! Depois dos estalos do corpo, Adão continuava se sentindo muito estranho. Sentia um vazio dentro e fora dele, era como se estivesse pela metade. Correu para o espelho d´água, passou a mão pelo seu corpo e não se reconheceu direito. Sabia que estava diferente: apertou o nariz, olhou atrás da orelha, procurou debaixo do braço e não descobriu o que era.
Naquele momento, bem perto dali, um grupo diversificado de passarinhos fazia um fuzuê. Como a curiosidade era mais forte, o homem se levantou para ver o que era. Caminhou devagar, desconfiado, pois sabia de tudo o que acontecia naquele mundo e estava assustado porque não tinha previsto aquela agitação.
Enquanto o canto dos passarinhos ficava mais alto, Adão podia ver uma imensa nuvem colorida em movimento, eram milhares de borboletas e passarinhos em círculos, dançando e comemorando felizes. Cantavam celebrando alguma coisa. Os passarinhos e as asas da borboleta formavam um belíssimo coro de canto e instrumentos de música: era a primeira canção do mundo.
Havia também um perfume estonteante no ar. Era um perfume tão maravilhoso que Adão começou a rir sozinho, sentir cosquinhas no pescoço. Eram as flores, estavam todas agitadas e lançando aquele perfume, presenteando o ar.
De todas as direções, pequeninos animais corriam curiosos e alegres, e mergulhavam naquela nuvem colorida e dançante. De repente, a nuvem se abriu, e o ser a que o planeta saudava havia se mexido. Era a mulher, rodeada de passarinhos, borboletas e flores. Ela estava se abaixando para fazer colo aos animaizinhos pequeninos e passou a niná-los com os braços e acariciava com o rosto aqueles que subiam sobre seus ombros para beijá-la.
- Que lindos animaizinhos!
Adão caiu para trás. Aquele novo ser e sua voz deixou o homem zonzo. Ficou imóvel por muitos instantes, até que ela passou por ele, sem enxergá-lo. Quando ela passou, Adão perdeu o fôlego de novo, ficou vermelho até que ela tomou distância novamente, só então o homem pôde recuperar o fôlego de vida.
Borboletas estavam na mente e na garganta do homem, borboletas vermelhas e risonhas que causavam cosquinhas no coração. Não sabia se ria ou se falava alguma coisa. Sua linguagem estava como as borboletas, dançando e cantando. Teve que inventar a poesia:
- Esta, finalmente,
é osso dos meus ossos,
e carne da minha carne.
Teu nome será Varoa,
porque do Varão foi tirada!
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